Era uma vez um velho muito velho, quase cego e surdo, com os joelhos
tremendo. Quando se sentava à mesa para comer, mal conseguia segurar a
colher. Derramava sopa na toalha e, quando, afinal, acertava a boca,
deixava sempre cair um bocado pelos cantos.
O filho e a nora dele achavam que era uma porcaria e ficavam com
nojo. Finalmente, acabaram fazendo o velho se sentar num canto atrás do
fogão. Levavam comida para ele numa tigela de barro e – o que era pior –
nem lhe davam bastante.
O velho olhava para a mesa com os olhos compridos, muitas vezes cheios de lágrimas.
Um dia, suas mãos tremeram tanto que ele deixou a tigela cair no chão
e ela se quebrou. A mulher ralhou com ele, que não disse nada, só
suspirou.
Depois ela comprou uma gamela de madeira bem baratinha e era aí que ele tinha que comer.
Um dia, quando estavam todos sentados na cozinha, o neto do velho,
que era um menino de oito anos, estava brincando com uns pedaços de pau.
- O que é que você está fazendo? – perguntou o pai.
O menino respondeu:
- Estou fazendo um cocho, para papai e mamãe poderem comer quando eu crescer.
O marido e a mulher se olharam durante algum tempo e caíram no choro.
Depois disso, trouxeram o avô de volta para a mesa. Desde então
passaram a comer todos juntos e, mesmo quando o velho derramava alguma
coisa, ninguém dizia nada.
Se aprender fosse fácil assim.
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